Cancioneiro de Pero Bernal (2009)

pero_bernalO livro que ora apresentamos não é novo, tendo sido escrito há mais de trinta anos. Sem aderir ao programa formal de Bouza Brey e Cunqueiro, o jovem Xosé Lois García se deslocou no tempo e assumiu a postura neotrovadoresca em 1972, dando vida ao segrel Pero Bernal, cujo nome e o estilo muito devem a Pero da Ponte e a Bernal de Bonaval. O momento histórico em que Bernal surgiu parece-nos importante. Tratava-se do final da longa noite de pedra que assolou a Espanha por décadas. Em 1975 terminaria a ditadura de Franco e as línguas nacionais espanholas poderiam iniciar o longo trabalho de reconstrução da própria dignidade. Contudo, por anos o espírito da censura franquista ainda pairaria sobre as literaturas regionais. Prova disso é que o Cancioneiro de Pero Bernal só veio à luz em 1988, dentro de Tempo precario, volume que congregou vários livros de poesia inéditos de Xosé Lois García. Logo no início da recolha nos deparamos com uma figura misteriosa, melancólica e fascinante, o segrel Pero Bernal, nascido e ativo no priorado de Pesqueiras, mais especificamente junto ao antigo mosteiro românico construído em 1120 perto do rio Minho que tantas vezes balbucia – ora lento, ora feroz – nas dezoito cantigas que nos legou Bernal. Passados tantos anos de seu nascimento, Pero Bernal finalmente ganha uma edição autônoma, agora que seu criador já é poeta de vastíssima produção e fortuna. Poderíamos então nos perguntar por que reeditar hoje estas cantigas tão delicadas, mas também tão afastadas do contexto histórico em que surgiram. A resposta está na leitura que cada um fará deste pequeno corpus. Mas podemos indicar algumas frequências interpretativas que podem justificar o ressurgimento de Pero Bernal nestes nossos dias resolutamente anti-líricos.


Andityas Soares de Moura

FROUSEIRA POESÍA
PRIMEIRA EDICIÓN 1988
SEGUNDA EDICIÓN 2009
COMPOSICIÓN: FERNANDO GALINDO ORTIZ
MINIADOS INTERIORES: CANTIGAS DE SANTA MARIA (S.XIII)